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Sandra Wegner*

Um ou mais membros se foram. Entre os jovens, mais comumente por acidente de trânsito, principalmente de moto, ou por acidente de trabalho (ex: choque elétrico de alta tensão). Entre os idosos, é mais frequente por problema vascular, geralmente diabetes. É também uma sequela de doença meningocócica. Câncer de ossos também é causa entre os jovens. São amputações adquiridas, com prevalência majoritária dos membros inferiores. Por extensão de conceito, incluem ausências de membros congênitas. Não importa, as consequências e a forma de reabilitar são as mesmas.

Temos o problema: o corpo ficou assimétrico. O centro de gravidade mudou um pouco de lugar – deslocou-se levemente para o lado onde sobrou mais massa corporal. O corpo se desequilibra – é como se o amputado passasse a carregar uma bolsa de compras daquele lado, não apenas por poucos minutos, porém permanentemente. Aquela inclinação para contrabalançar o desequilíbrio é procedida 24h e pode desalinhar a coluna e outras partes corporais. É necessário fortalecer a musculatura adequada para ela reagir contra esta inclinação e manter o corpo ereto e alinhado.

A percepção do corpo no ambiente espacial também mudou. A relação com objetos e corpos próximos ficou diferente, o “golpe de vista” para não esbarrarmos deve ser retreinado. Fora a imagem corporal, a visão do corpo, sua aparência diferente… Estranhamos a nós mesmos, temos medo da reação dos outros a este nosso corpo com nova forma.

O retreinamento do equilíbrio com a nova distribuição de forma e massa corporal é o campo de atuação por excelência da água. Normalmente, já ficamos instáveis na água, portanto nada de mais em ter surgido um elemento adicional de desequilíbrio – a amputação. Todo um conjunto de músculos é treinado para impedir que o corpo flutuando de costas gire, outro conjunto é treinado para propiciar a passagem da posição de costas para a posição em pé, outro conjunto é treinado para manter o paciente ereto e equilibrado.

A amputação requer a atuação de outros músculos que aqueles atuantes antes da amputação, porém a maneira de proceder a esta ativação e fortalecimento muscular é similar. Ademais, os centros de equilíbrio cerebrais recebem estímulos diferenciados, “chamando” por comandos de reequilíbrio diferentes dos habituais em virtude da falta do membro amputado. Ocorre um processo de reaprendizagem motora.

A maior liberdade de movimento na água contribui à autoestima. Na piscina, muletas, bengalas, próteses são desnecessárias. A flutuação e a pressão hidrostática atuam como elementos de sustentação. O convívio com outros é estimulante.

Técnicas de relaxamento passivo que embalam e são acolhedoras e aconchegantes soltam músculos tensos com a responsabilidade de compensar a falta de sustentação decorrente da ausência do membro e também aliviam mentes preocupadas com a nova situação de vida, com a autoimagem prejudicada, com o relacionamento com os outros. Depois de atividades aquáticas, o mundo se modifica, fica mais cor de rosa, com certeza. Agora, a todo vapor para enfrentá-lo!

Fonte: Globo Esporte / Eu Atleta

* Sandra Wegner é professora de Educação Física (UERJ) e Fisioterapeuta (IBMR), com formação internacional em Fisioterapia Aquática (Hidroterapia) com o Dr. Johan Lambeck. Mestre em Educação Especial (Uerj). Sócia-diretora da Hidrovida Atividades Aquáticas no Rio de Janeiro. Site: www.hidrovida.com.br

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Passo Firme – 13.07.2012
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